O método Lean Construction é uma a otimização de processos que consiste na entrega de um produto de qualidade priorizando a eliminação de desperdícios, agregar valor à construção, otimizar tempo, reduzir a variabilidade, e tornar processos transparentes.
Visando entender de que forma essa ferramenta pode ser aplicada em uma obra de urbanização que prioriza a sustentabilidade, a estudante de engenharia civil da Universidade Estadual de Campinas, Stella Rodrigues de Faria, realizou o estudo de caso dentro da obra do condomínio da Artesano, podendo ver e analisar dados coletados na prática diária da construção em uma obra planejada para minimizar impactos ambientais e ser efetivamente sustentável aplicando a metodologia.
Entrevistada pela Gerente de Sustentabilidade, Monica Picavea, e pelo Coordenador de Marketing, Talles Amadeu, Stella conta que sempre quis trabalhar com o método Lean pois se identifica com as incríveis possibilidades da ferramenta, e que a experiência de estar na obra do Galleria foi uma excelente oportunidade de ver de perto o método sendo aplicado na prática.
Durante a conversa, ela salientou a importância da empresa abrir as portas para a universidade, criando laços que impulsionam o conhecimento, e contou os impressionantes resultados do seu estudo intitulado “Análise da contribuição do Lean na redução do impacto ambiental em obras de urbanização”.
Como foi o trabalho com a Artesano, como se deu essa conexão até você chegar no resultado?
Stella: Eu achei tudo extremamente organizado! Através desse estudo pude ter um dos meus primeiros contatos diretamente com uma obra, então foi muito importante para eu ver e entender como tudo funciona. As reuniões periódicas que vocês fazem, a equipe do Lean que também está lá sempre acompanhando e fazendo com que o pessoal de campo também coloque em prática tudo aquilo que sabe. Então, achei sensacional poder ver isso de perto e ver como que tudo isso acontece, porque na teoria é muito difícil visualizar e com a oportunidade de estar lá eu pude ver que funciona muito bem. E é por isso que tivemos esses ótimos resultados dentro do estudo, mesmo que de forma estimativa, deu para ver um pouco do que estamos conseguindo alcançar com toda a estrutura que vocês montaram para para desenvolver essa obra. Foi muito bacana!
Qual foi a pergunta da pesquisa e o que você descobriu?
Stella: A justificativa do trabalho de conclusão era que atualmente temos uma série de problemas ambientais relacionados à indústria da construção civil em obras de urbanização. Então temos uma série de impactos ambientais principalmente relacionados à emissão de gás carbônico e tem, eu posso dizer, um certo tabu em relação à forma como trabalhamos hoje esse tipo de obra. Então o Lean é uma super inovação e é uma solução muito grande por poder encaixar as soluções do método dentro das obras de urbanização. Apesar de entender que é difícil e existe um trabalho enorme por trás, existe também uma solução, que é essa ferramenta muito poderosa que é o Lean. Porque hoje não conseguimos substituir as máquinas, que são as principais ferramentas desse tipo de obra, então o que podemos fazer é tornar o trabalho mais efetivo, melhorar os processos e evitar desperdícios e diminuir o impacto ambiental.
Entre os princípios da Construção Lean quais deles você sente que está mais presente na obra da Artesano?
Stella: Eu acredito que evitar desperdícios no geral porque quando falamos de desperdício estamos falando de desperdício de tempo, de trabalho – porque tem as pessoas que se estão ociosas na obra e temos a perda de tempo da mão de obra qualificada, que também está inclusa na questão financeira. E também envolvendo a questão ambiental, então eu acho que o foco nessa obra, ao meu ver, foi a questão de evitar o desperdício mesmo.
Qual foi o principal resultado observado com a Artesano aplicando o Lean – pensando que para nós, o uso das máquinas é o que chamamos de curva A de carbono, ou seja, nossa maior emissão na obra. O que você achou de reduzirmos os movimentos ao invés de fazermos o inventário de carbono no final da obra e compensar, que geralmente é o que se faz?
Stella: Nós analisamos dados de produtividade que tínhamos antes da aplicação do método Lean e comparamos isso com o período após a aplicação. E pudemos ver que a produtividade aumentou bastante. Para mensurar essa produtividade vimos a quantidade de metros cúbicos que eram produzidos diariamente, a quantidade de dias que foram trabalhadas naquele período e a quantidade de escavadeiras que estavam envolvidas no trabalho, então comparamos de forma equivalente nesses dois períodos e vimos que a produtividade aumentou depois da aplicação da utilização do Lean. A partir desse resultado conseguimos fazer uma equivalência e ampliar isso também para a questão ambiental, afinal se tivemos um aumento de produtividade, estamos produzindo mais e com a mesma quantidade que a gente produzia antes, também temos uma economia porque estamos utilizando o mesmo que tínhamos antes e fazendo muito mais. Então, fazendo algumas análises, percebemos que chegamos em uma redução na emissão de gás carbônico bem grande, através de 25,1% do aumento da produtividade da obra. Eu fiz uma estimativa do que isso poderia gerar de potencial na redução do gás carbônico e o valor chegou a 38.6 toneladas por metros cúbicos trabalhado de cada escavadeira, chegando a um índice de economia de 0,05 litros também por metros cúbicos por escavadeira trabalhada.
Como chegou nesses índices?
Stella: Através do cálculo da atividade, pegamos a produção mensal porque eles têm um mapeamento com o que é produzido diariamente. Então pegamos essa produção total naquele período dividido pela quantidade de escavadeiras aí a gente chegou em uma produtividade média de metros cúbicos das escavadeiras por dia trabalhado. Fizemos uma comparação de antes e depois da aplicação do Lean e fizemos a diferença para chegar nesse índice de 25,1% de aumento na produtividade. Em relação ao potencial do Lean na redução CO2 fizemos uma estimativa do consumo da escavadeira – uma informação que eu peguei com o pessoal da obra, eles me falaram que a escavadeira tinha um consumo em torno de 18 litros, então utilizei esse valor por hora, multiplicando por 8 horas de trabalho, ela chegou em um consumo de 144 litros. Com essa produtividade dividimos e fizemos a quantidade de litros dividida pela média que ela produzia e chegamos nesse índice. Novamente, fizemos a diferença entre antes e depois e chegamos em 0,05 litros por metro cúbico de economia. Por fim, com esses dados utilizamos o método GHG protocol e chegamos na quantidade de CO2 em tonelada que eram emitidos.
A Artesano não só preza pela sustentabilidade na obra, mas também no entorno, na comunidade, isso é um trabalho realizado pela Monica através do Instituto. Como você vê essas ações na obra de alguma forma impactando a comunidade?
Resumo dos resultados da pesquisa
- Aumento da produtividade da obra em 25,1%
- Índice de economia de diesel por metros cúbicos por escavadeira trabalhada de 0,05 litros
- Redução de emissão de Gás Carbônico de 38.6 toneladas por metros cúbicos trabalhado de cada escavadeira, índice que para suprir seriam necessárias cerca de 3670 mudas de árvores coníferas já cultivadas por 10 anos para conseguir sequestrar todo o carbono que seria gerado
- Redução de movimento da escavadeira em ¼ gerando uma economia de 1,125 litros por ciclo
- Posicionamento estratégico da escavadeira na obra trouxe economia de 540 litros de diesel por mês
- Economia de 3.066 kWh de consumo de energia dentro do período
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